Mí(s)tico

Witch Bottle – Garrafa de Bruxa

Entre os séculos XVI e XVII, era comum a prática de bruxaria contra bruxas – embora quem a praticasse estivesse em profundo grau de negação e não reconhecesse tal ação pelo que realmente era: um feitiço para combater feitiços e feiticeiras.

O feitiço mais comum naqueles tempos foi a Garrafa de Bruxa (Witch Bottle, em inglês). De cerâmica ou vidro, a garrafa era feita com a intenção tanto de combater maldições já lançadas e mandando de volta todo o mal para a sua fonte de origem quanto para proteção preventiva contra o mal e espíritos malignos. As primeiras menções escritas sobre as garrafas de bruxa foram encontradas em um livro escrito na Inglaterra em 1680, mas as garrafas encontradas por arqueólogos podem ser datadas desde 1500.

Uma garrafa de bruxa era extremamente pessoal e com frequência continha unhas, fios de cabelo e urina, além de pregos, alfinetes e, em alguns casos, enxofre. Ferver a mistura era o método mais tradicional de preparar a poção que, então, mandaria o feitiço de volta para a bruxa que o lançou.
Prática trazida da Inglaterra para a América, onde garrafas foram descobertas recentemente, de fato, a bruxaria era um problema tão sério nas colônias que existiam legislações contra a prática de bruxaria que serviam de guia oficial sobre como agir quando se suspeitava que algum feitiço estava em ação. E a garrafa de bruxa era a recomendação mais usada para a população.

É fácil, nos dias de hoje, tratar o assunto como crendice de uma era pouco (ou quase nada) iluminada pelos avanços da ciência. Mas é inegável, sob a luz dessa mesma ciência, que o efeito placebo possui grande poder de cura sob as mais diversas mazelas do corpo e da alma.

De qualquer jeito, a garrafa de bruxa encontrou seu caminho até o paganismo moderno. E o feitiço a seguir foi retirado do livro O Poder da Bruxa, de Laurie Cabot.

O livro foi publicado em 1989, e a edição traduzida para o português que tenho em minhas mãos é de 1991. Laurie Cabot é americana e, por isso, levo em consideração questões geográficas quando uso feitiços descritos por ela. De modo geral, não me recordo de ter seguido nenhum deles 100% à risca por não ter disponibilidade de material – muitas vezes, materiais característicos do hemisfério norte. Em alguns feitiços, por exemplo, é necessário pelos de lobo. Onde diabos vou encontrar pelos de lobo em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No caso da tia Laurie, ela é amiga de longa data dos funcionários de um zoológico local. Quando os lobos que vivem lá trocam a pelagem, esses funcionários recolhem os pelos e doam para ela. No meu caso, nem no zoológico que fica na cidade vizinha tem lobos, então, uso pelos de cachorro mesmo porque são da mesma família.

(P.S.: nenhum animal, JAMAIS, foi ou será ferido por minhas mãos nem que a minha vida, literalmente, dependa disso. Animais soltam pelos naturalmente, bem como humanos perdem cabelos, e são esses “ingredientes” que utilizo quando necessário.)

Dito tudo isso, entre parênteses, acrescentei materiais de mesma constituição que, de acordo com a minha experiência e conhecimento do assunto, manterá a integridade do feitiço.

SOTILÉGIO DA GARRAFA (também conhecido em outros tempos como Garrafa de Bruxa)

Este sortilégio pode ser usado para neutralizar o poder daqueles que pretendem nos causar danos físico, ou prejudicar a nossa reputação ou, de uma forma ou de outra, produzir ameaça à nossa segurança. Você vai precisar de:

  • 4 colheres de sopa de olíbano ou mirra (in natura)
  • 4 colheres de sopa de limalha negra de ferro (ou 1 prego)
  • 4 colheres de sopa de sal marinho
  • 4 colheres de sopa do pó de rizoma de lírio ou musgo de carvalho (ou pó de gengibre)
  • 1 vela branca
  • 1 garrafa com rolha ou tampa
  • Almofariz e pilão (prato e colher de pau)
  • Papel de pergaminho (papel em branco e sem pauta)
  • Tinta preta ou esferográfica preta (caneta preta)
  • Fio preto

Misture o sal marinho, o pó de rizoma de lírio e a limalha de ferro numa tigela. Depois, corte um pedaço de pergaminho que caiba na garrafa e escreva com tinta preta “Eu neutralizo o poder de (escrever o nome do adversário) para me fazer mal. Peço que isso seja correto e para o bem de todos. Assim seja.” (Assim seja pode ser substituído por Assim está feito.) Enrole o pergaminho, amarre-o com o fio preto e coloque dentro da garrafa. Encha a garrafa com os ingredientes secos. Depois, pegue a vela e, enquanto gira a garrafa no sentido inverso dos ponteiros do relógio, pingue a cera sobre a rolha ou tampa para vedá-la. Finalmente, enterre a garrafa num lugar secreto onde não possa ser perturbada nem desenterrada por animal ou pessoa. Caso isso aconteça, o feitiço será quebrado.

Imagens: Museum of Witchcraft and Magic

Fontes:
MOLArchaeology: Unstoppering a 17th-century ‘witch bottle’ at the Pitt Rivers Museum
The Little Museum Of Dublin: The Witch Bottle of Bow Lane
Archaeology Magazine: An American Wirch Bottle
New Scientist: London’s magical history uncorked from “witch bottle”
Ancient Origins: For Good and Evil: Witch Bottles as Countermagical Devices Through History

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