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Laurie Cabot, a tia excêntrica que sempre quis ter

Existe uma bruxa em Salem, Massachusetts. Uma bruxa que se veste de preto (todos os dias), usa um colar com o pentagrama e tem um familiar. Ela faz feitiços em seu caldeirão, vende poções mágicas, fala com espíritos e celebra a Roda do Ano. O estado de Massachusetts até reconhece ela como a “bruxa oficial de Salem”. Entre os praticantes da arte, e muitos outros que tiveram contato com ela através dos seus livros, ela é chamada de Laurie Cabot. Mas, para mim, ela é a tia Laurie.

Não, eu nunca conheci ela pessoalmente. E estou bem certa de que ela nem suspeita da minha existência. Mas Laurie Cabot conquistou a cadeira cativa de tia excêntrica que existe no meu coração e preencheu esse canto vazio da minha alma. A figura dela é importante para mim porque, mesmo não trilhando o mesmo caminho da arte que ela, foi tia Laurie que me inspirou a ser minha própria versão de tia excêntrica que sou hoje.

Embora minha mãe seja uma mulher de mente aberta quando o assunto é religião, ainda assim, cresci numa família cristã. Lembro que a primeira imagem de bruxa que comprei foi quando tinha 13 anos. Era uma imagem bem inofensiva – uma velha senhora montada em sua vassoura com um lindo vestido amarelo. Grizelda era o nome dela. Ela tinha um fio de nylon amarrado na ponta do chapéu e no cabo da vassoura para pendurar. Eu estava muito feliz com a minha bruxa, mas acho que o nariz pontudo dela não cativou o resto da minha família e mesmo sendo uma imagem sorridente, acabou ocupando o fundo do meu armário por cerca de quinze anos até que, um dia, acabei doando ela junto com minhas bonecas e ursos de pelúcia. Me arrependo muito por ter feito isso. Era uma bruxa linda que penduraria com muito orgulho na porta do meu quarto hoje em dia. Mas eu ainda não tinha tirado minha vassoura do armário naqueles dias de agonia.

Gostaria muito de ter sido abençoada com a presença física de alguém como Laurie Cabot enquanto eu crescia. Acho que teria me sentido menos solitária. Tia Laurie me lembra aquela bruxa sorridente de vestido amarelo, mesmo que ela mesma só use roupas pretas. Alguma coisa na maneira como ela se apresenta traz conforto para o meu coração – me lembra que o mundo pode ser um pouco mais encantado, mágico, extraordinário. E que eu não estou sozinha – que talvez um dia eu venha a conhecer outras bruxas solitárias que trilham o mesmo caminho e, juntas, vamos formar a nossa Sociedade do Chapéu Preto.

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