O Mar e Eu

Me considero uma espécie de eremita urbana. Evito transitar por ruas movimentadas e há tempo não sei mais lidar com aglomerações. De fato, acho que nunca soube muito bem. Me sinto melhor quando estou sozinha ou na companhia de poucos e bons amigos.

Ainda bem que o mundo é imenso. Para cada lugar onde as massas se amontoam, existe mais de dez onde o silêncio e a solidão ainda prevalecem. E foi assim que, dia desses, me encontrei numa extensa faixa de praia deserta.

Naquele dia, coletei pedras, conchas e um punhado de areia. Fiz uma longa caminhada e nem me importei com a barra da saia molhada pelas ondas. Evitei o sol com chapéu e protetor solar, conversei com o mar.

Poderia ter ficado ali, parada, por mais tempo do que deveria. Mas meu passeio era breve. Logo precisei pegar a estrada de novo e voltar para o caos urbanizado onde moro. Então, fiz cada segundo valer a pena.

Se alguém estivesse me observando, talvez não percebesse, mas naquele momento eu estava praticando a minha magia.

O mar tem esse efeito em mim… Ele me coloca num estado de transe mesmo quando ainda estou consciente, me conecta com tudo que existe aqui. Escuto seu chamado mesmo em terras distantes. Ele chega até mim através de qualquer fonte de água corrente. Posso sentir suas ondas percorrendo meu corpo, lavando minha alma, cantando com o meu coração.

Por muito tempo, tudo que ouvi foram ecos desse chamado, e demorei tempo demais para dar atenção. Mas, aos poucos, sinto que estou chegando cada vez mais perto da voz de origem – estando ou não próxima do oceano. Estou aguçando minha intuição e minha audição está cada dia mais clara, limpa, atenta. Logo, vou ser capaz de encontrar esse ponto de origem – que, sei, é onde meu coração boêmio vai encontrar seu lar, finalmente.

Estou voltando para casa – longe do barulho caótico daqueles que já esqueceram ou ignoram suas origens, longe das aglomerações… para perto da natureza. Perto da minha natureza.

(Imagem de capa: Esther Ann)