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Jovens Bruxas (1996)

Jovens Bruxas foi o filme que apresentou a bruxaria para mim. Não sei explicar muito bem, mas enquanto assistia ao filme, sozinha no cinema, meu corpo não parava de responder aos elementos mágicos do filme. Arrepios, vontade de chorar, saudade de alguma coisa que nunca conheci, alívio… Tudo aquilo parecia verdadeiro e real para mim, de alguma forma. E quando, no meio do filme, me perguntei “Sou uma bruxa?”, meu coração começou a bater num ritmo diferente, mais forte, como um tambor, estremecendo meu corpo inteiro.

Bem ali, na sala de cinema, eu descobri que acreditava em alguma coisa maior que eu, maior que entidades divinas, maior que a minha vida. Embora ainda não soubesse o que era.

Eu amo esse filme. Até hoje ele permanece no meu Top 5. E, vez ou outra, gosto de voltar no tempo assistindo ele mais uma vez. Gosto de relembrar meus dias de adolescente, desbravando as ruas de Porto Alegre numa busca incansável por qualquer coisa que me ensinasse mais sobre esse mundo mágico que tinha acabado de encontrar. Tudo que eu queria era encontrar uma loja iluminada por velas e cheia de livros sobre bruxaria. De preferência com uma bruxa disposta a me guiar nesse caminho.

Ainda lembro do perfume do meu incenso favorito daquela época – que nunca mais encontrei. Ainda uso meu primeiro “anel de bruxa” comprado numa lojinha, que vendia alguns escassos artigos esotéricos, chamada Três Pirâmides. Meu primeiro grimório, feito de uma agenda velha que minha mãe nunca tinha usado, ainda existe. Guardo ele entre livros sobre o assunto. Está repleto de colagens e cópias das simpatias do João Bidu.

Três amigas minhas e eu fizemos o círculo. Mas em vez de ir até um parque, usamos o banheiro da escola, e substituímos o vinho por suco de uva e o punhal por faca de cozinha. E, sim, furamos os nossos dedos e colocamos uma gota de sangue no copo de plástico. (Sem perguntas, por favor.) Não sei quanto ao pedido delas feito no círculo, mas o meu funcionou. Porém, infelizmente nunca conseguimos levitar ninguém nem mudar de aparência num passe de mágica.

Muitas coisas no filme, hoje, colocam um sorriso no meu rosto. Não só pelas lembranças, mas pelo conhecimento adquirido ao longo dos anos. Em Jovens Bruxas, a bruxaria praticada é uma versão hollywoodianizada da religião Wicca. Naquela época, sem muita informação disponível, acreditei que Wicca era sinônimo de bruxaria – que ser bruxa era ser wiccano. Na cena de abertura, com a Nancy, Rochelle e Bonnie, a única coisa familiar para mim eram as velas e as varetas de incensos. E o que me faz rir é que elas também usam um bastão com outras ervas que na época eu não tinha a menor ideia do que fazer com aquilo. Todos aqueles símbolos que aparecem em flash na tela logo após a cena de abertura… o que significavam e de que livro saíram? Eu nunca tinha visto nada parecido. E para que servia aquela estrela no meio da mesa?

Eu tinha muitas perguntas e nenhuma das respostas eram encontradas nas revistinhas de simpatia do João Bidu.

Mas uma das primeiras e mais importantes lições que aprendi no filme, e na minha jornada, foi que não existe magia negra nem branca. Existe apenas magia. O que é ruim para alguém pode ser bom para a outra pessoa. Depende de que lado da balança cada um está em relação ao que elas desejam.

Também aprendi que um feitiço depois de lançado não pode ser desfeito, Por isso é sempre bom ter certeza daquilo que você deseja. E que resultados podem ser alcançados das mais variadas formas, inclusive por meios moralmente questionáveis.

Por outro lado, uma das lições que mais me marcou e demorei muito tempo para desaprender foi a lei do retorno 3x. Porque hoje estou ciente de que aquilo que volta é uma força oposta e de mesma ou maior intensidade. O que você manda nem sempre é o mesmo que você recebe de volta. Ou seja, faça aos outros o que você faria a si mesmo por questões de princípios, e não por medo de algum tipo de punição.

E uma outra lição que foi apresentada no filme, mas só compreendi muitos anos depois, é que todo mundo tem acesso a magia. Mas algumas pessoas nascem com um talento natural para praticá-la enquanto outros precisam de treino constante para manter o mesmo nível.

Hoje, assistindo o filme mais uma vez, gosto de lembrar com carinho daquela jovem e inexperiente Pâmela. Ela nem sabia a jornada que tinha pela frente no aprendizado dessa arte. E estou certa de que, no futuro, ainda vou sorrir para a Pâmela de hoje com o mesmo carinho. Porque esse aprendizado é para a vida toda.

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