Quase uma prenda - Coração Boêmio
Vestir

Quase uma Prenda

Eu tinha uns sete ou oito anos quando ganhei meu primeiro (e único) vestido de prenda. Era azul e branco, sem muitos babados e perfeito para mim. Eu amava aquele vestido da mesma maneira que amava as longas saias da minha mãe. Mesmo não sendo fã de música regional gaúcha, ficava feliz em participar dos bailes apenas para ter a oportunidade de usar meu vestido fora de casa (sim, eu rodopiava ele dentro de casa numa base quase diária).

Logo, meu amado vestido deixaria de servir, minha mãe proibiria o uso das suas roupas colocando um fim nas minhas brincadeiras de “ser gente grande” com elas (completamente compreensivo, afinal, aquelas eram as roupas que ela usava no dia a dia) e eu ficaria sem vestir longas saias de novo até a minha festa de aniversário de 15 anos.

Meus 15 anos

Lembro que nessa época, dos meus quinze anos, Titanic ganhou a tela dos cinemas e, no secreto mundo encantado do meu quarto, comecei a enrolar cangas no meu corpo numa tentativa frustrada de reproduzir os figurinos incríveis do filme (o meu favorito, até hoje, é o vestido usado na noite do naufrágio).

Um pouco antes disso, Jovens Bruxas era uma das minhas obsessões (acho que ainda é, na verdade) e um dos meus figurinos favoritos era a roupa preta usada pela Nancy quase no final do filme (quando ela já está no modo “full power bitch-witch”), uma sobreposição de peças pretas num visual bem gótico. Ou seja, meu gosto fashion estava completamente fora de moda para os padrões sociais da virada do século. Ainda assim, a parte gótica foi mais fácil de assimilar do que a parte antiga.

Coração Boêmio - Bruxa Boho

Meu gosto para roupas também se reflete no meu gosto por arte, arquitetura, decoração… tudo associado ao estético, na verdade. Eu costumava dizer que nasci na era errada, mas isso não é verdade. Se tivesse nascido em outros tempos, é bem provável que tivesse sido queimada na fogueira. Então, não, não nasci na era errada. Apenas tive alguns problemas ao longo dos anos para adaptar meu estilo pessoal nos tempos atuais. Algo que, acredito, tenho realizado com sucesso nos últimos anos.

Desde 2014 tive o privilégio de poder dedicar meu tempo ao que mais amo fazer nesta vida: pesquisar e aprender mais sobre civilizações antigas, mitologia e misticismo. E esse privilégio me trouxe a oportunidade de, também, aprender mais sobre mim mesma, de revirar meu passado trazendo à tona todos os meus tesouros escondidos debaixo de toneladas de traumas e inseguranças.

Coração Boêmio - Misticismo

Mas então, eis que a moda atual resolveu dar um empurrãozinho e saias longas começaram a brotar aos montes por todas as vitrines. Não era exatamente o que eu procurava, mas já era um começo. Assim que encontrei minha nova saia favorita, em dezembro de 2020, decretei que nunca mais voltaria a usar calça jeans – exceto se fosse absolutamente necessário – e minha jornada em busca de roupas mais femininas, esvoaçantes e que lembram outros tempos teve início.

E como o mundo dá voltas e acaba sempre voltando para o mesmo lugar, hoje, as principais peças de uso cotidiano no meu closet são as minhas saias de prenda. Longas, rodadas, lindas.

Talvez eu não seja um belo exemplo de gaúcha, afinal, não como churrasco e nem lembro a última vez que tomei chimarrão, mas as roupas típicas gaudérias… essas eu aprecio. De fato, acredito, posso dizer que sou quase uma prenda.

Coração Boêmio - Saia de Prenda

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