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Da Magia à Sedução

Por mais de vinte anos, tenho culpado as mulheres da família Owens por manter minha mente e meu coração enfeitiçados. Não que a culpa seja delas de fato. Não. Mas elas possuem um dom… o dom de me fazer acreditar na magia.

Meu amor por essa família é tão genuíno que, inúmeras vezes, me peguei desejando ser uma Owens, com maldição e tudo. Sim, eu gostaria de viver naquele universo e fazer parte da família. Além disso… casa perfeita, tias excêntricas e poderes mágicos.

No entanto, eu vivo neste universo, onde a magia funciona de forma mais sutil e quase inacreditável. Tanto que, às vezes, me pergunto se não estou alucinando ou imaginando coisas. E mesmo quando tento ignorar alguns fantasmas, eles seguem me assombrando, guiando meus passos para o caminho onde o estilo de vida Owens me aguarda de braços abertos, porque essa é a minha natureza.

Ao longo da minha vida, já me vi na pele de todas as personagens apresentadas do filme Da Magia à Sedução. Já fui a jovem Gillian, que mal podia esperar para se apaixonar; já fui a jovem Sally, fazendo feitiço para encontrar o homem dos meus sonhos, fantasiando sobre alguém perfeito que não existia e, assim, nunca partiria meu coração; já fui Gillian adulta, cheia de vida e aventureira, buscando uma vida nova em cada canto, desesperada para me livrar de minhas origens; já fui a Sally adulta, com coração partido, de luto por um amor interrompido pela vida, romântica até os ossos, ainda desejando por um amor capaz de fazer o tempo parar e conformada com a solidão; já fui, embora em raras ocasiões, a doce a paciente tia Jet, sempre preocupada ao ponto de devoção com aqueles que ama; e, mais recentemente, tenho me visto na pele da tia Frances, uma mulher mais carrancuda e de gênio forte que não se importa com o resto do mundo, mas com um coração imenso e cheio de amor para compartilhar quando se olha mais de perto e com mais atenção.

Da Magia à Sedução faz parte da minha vida de um modo tão encantado quanto a história do filme (ou do livro que foi inspirado). Sempre que me sinto desconectada de mim mesma ou solitária com a benção e o fardo da minha natureza, lembro das mulheres Owens – mulheres que vivem nas páginas dos livros, mas que facilmente poderiam ser minhas vizinhas, minhas amigas, minha família. E, creio, esse é o verdadeiro motivo do feitiço lançado sobre mim em 1998 (quando assisti o filme pela primeira vez) ainda persistir, mais forte do que nunca: a magia no universo de Practical Magic é tão subjetiva quanto a do nosso universo, deixando todo o conceito mágico mais tangível e real.

Se um dia serei capaz de acender velas com um sopro, não sei. Mas de algumas coisas tenho certeza: “Sempre jogue o sal derramado sobre seu ombro esquerdo. Tenha alecrim no portão do seu jardim. Acrescente pimenta nas batatas amassadas. Plante rosas e lavanda para a sorte. Se apaixone sempre que você puder”.

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