
Quando os amigos casaram mas você não
É um mundo cruel e selvagem lá fora para os solteiros. Especialmente depois dos 40 anos. Nossos amigos já estão casados, com filhos, enquanto nós estamos adotando gatos e cachorros. Seja qual for a razão que nos colocou nesse caminho, de repente, nos deparamos com a dura realidade da solidão. Afinal, o seu melhor amigo para sempre tem coisas mais importantes para fazer do que lembrar da sua existência.
Sabe aquele ditado “você colhe o que você planta”? Bem, eu devo ter plantado em solo infértil. Eu sempre fui o tipo de amiga dedicada, que doa até a alma, move montanhas, atravessa fronteiras… mas parece que essa estrada é uma via de mão única. Se eu não procuro por eles, eles não procuram por mim. Eu não faço isso esperando por alguma coisa em troca, é apenas a minha natureza. Mas essa merda de empatia pelo próximo fodeu com a minha autoestima. Porque quando eu mais precisei de companhia, ninguém ofereceu ajuda. Ninguém, nada, zero, silêncio no rádio, Erro 404. Estranhos na internet foram mais atenciosos do que a minha amiga mais próxima – que tinha recém-casado.
De fato, ninguém que eu conheço pessoalmente está interessada na minha vida, no meu trabalho, no que eu escrevo. Minha melhor amiga disse que não lê a minha newsletter – embora seja assinante.
Poxa, amiga, pelo menos abre a porra do email para me ajudar nas estatísticas, pelo amor de Deus.

Nossos amigos de longa data casaram, tiveram filhos e formaram um novo círculo de amizades. Eu não culpo eles, afinal, a vida acontece. Mas onde foi parar todo aquele amor, aquela parceria, aquela camaradagem que existia entre nós depois que eles viraram a esquina? Nossa amizade foi tão insignificante assim que você nem se dá ao trabalho de enviar uma mensagem perguntando se estou viva? Você sequer se lembra que eu existo? Você ainda lembra o dia do meu aniversário, aquele que você contava os dias para celebrar comigo?
Eu não estou pedindo para ser uma prioridade, mas apenas para ser lembrada e tratada com o respeito e a dignidade que uma amizade de longos anos merece.
Eu estava lá quando o seu coração foi partido em mil pedaços, e ajudei a juntar todos os cacos. Eu fiquei ao seu lado quando a sua vida desabou e te carreguei nos braços mesmo quando o peso da minha vida já era demais para mim. Eu estava lá quando você conheceu aquela pessoa especial – e acompanhei cada passo dessa história até o seu casamento. Eu até estava lá quando o seu primeiro filho nasceu, comprando presentes e aguentando você falar sobre maternidade mais do que eu falo sobre os meus gatos. Eu sempre estive ao seu lado… até você decidir que a minha companhia não era mais importante do que a companhia de outros amigos casados e com filhos.


Repito, eu sei, a vida acontece. Mas eu gostaria que você me celebrasse da mesma maneira que celebrei você em todos os momentos que você julgou importante. Você foi a noiva; você foi a mãe; você foi o cara cheio de problemas financeiros. Eu continuo sendo a amiga solteira e sem filhos. Por que celebrar o dia das mães, o dia dos namorados, o aniversário de casamento deve ser lembrado enquanto o meu aniversário é esquecido? Se eu fosse casada e tivesse filhos, ainda seríamos melhores amigos? Se eu não lhe desejar parabéns no seu próximo aniversário, você vai sentir falta?
Acho que a culpa é minha… por esperar que os outros me tratem com a mesma dedicação que trato eles. Reciprocidade, sabe?
Enfim… Eu espero que você tenha um casamento longo e feliz, que seus filhos cresçam fortes e saudáveis, que a sua vida seja cheia de amor e carinho. E, não se preocupe, eu não espero que você deseje o mesmo pra mim. Eu desejo pra mim mesma. Mas você, eu sei que precisa de toda ajuda que puder, afinal, o casamento perfeito não é um mar de rosas, a vida perfeita das redes sociais é falsa, o trabalho incrível está sugando cada gota de energia vital do seu sangue e os filhos começaram a mostrar os primeiros sinais de rebeldia – como adolescente sempre fazem.
E, adivinha? Eu sou a tia excêntrica tatuada que fala palavrão para quem eles contam todos os segredos que você deseja tanto saber – e que eu nunca vou compartilhar com você porque esse é o tipo de amiga/tia que eu sou. Então, boa sorte com isso, amigos!


