a vida como ela é

Eu tinha medo de ficar sozinha

O meu maior medo sempre foi o de morrer sozinha, ficar sozinha, estar sozinha. A solidão em geral sempre me apavorou. Morria de medo de acabar os meus dias sem amigos, sem uma família e sem um grande amor para me fazer companhia.

Besteira.

Se eu pudesse ter um encontro com a minha versão do passado, diria para não ter medo porque nós somos a melhor companhia uma da outra: gostamos dos mesmos filmes, achamos graça nas mesmas piadas idiotas, gostamos das mesmas músicas, queremos conhecer os mesmos lugares ao redor do mundo, gostamos do mesmo tipo de comida, compartilhamos da mesma fé e, a melhor parte, desfrutamos da mesma liberdade de mente, corpo e espírito. Isso teria evitado algumas situações completamente desnecessárias quando era mais nova.

Por exemplo, teria evitado o constrangimento de ir parar no meio da pista de dança com um cara para dançar pagode (estilo musical pelo qual não tenho muito apreço) provando a fraude que sou como mulher brasileira por não compartilhar da mesma malemolência que as minhas compatriotas. Depois da primeira rodopiada onde meus pés foram parar no lugar da minha cabeça, quando voltei para a posição Homo sapiens, falei para o companheiro “Eu te disse que não sabia dançar e é assim que você me trata?”

Virei as costas e voltei para o meu lugar favorito naquela noite (o banquinho estrategicamente colocado em frente ao bar) pensando “Eu não preciso disso”.

E não precisava mesmo, mas eu insistia em acompanhar as amigas pagodeiras porque elas eram as únicas amigas que eu tinha na época. Eu adorava elas e queria agradar. Esse sempre foi o meu maior defeito: me preocupar mais em agradar os outros do que a mim mesma. Eu sempre coloquei as necessidades alheias em primeiro lugar. Tudo, é claro, pelo medo de ficar sozinha.

Eu não sei em que momento da minha vida esse medo tomou conta de mim, mas nem sempre foi assim. Quando eu era pequena passava horas brincando sozinha, e até preferia assim porque podia brincar do que eu quisesse, na hora que eu quisesse e do jeito que eu quisesse, sem a intervenção de ninguém na história que eu estava inventando para as minhas bonecas ou para mim. Eu não tinha problemas nenhum em ser a minha única companhia.

Às vezes, acho que esse medo começou a aparecer quando eu sofri a minha primeira rejeição amorosa. Sabe? O primeiro amor da adolescência. Eu fui louca pelo cara durante uns três anos, ele sabia e fazia pouco caso. Ele era o tipo de cara que eu chamo de “não caga e nem desocupa a moita”. Foi um começo complicado na vida emocional.

A questão toda é que enquanto eu me colocava na posição de vítima, de coitada, sempre acreditei que eu tinha algum problema e que por isso acabaria sozinha. E acho que isso desencadeou um pânico de solidão dentro de mim, me fazendo agir de maneira submissa em relação aos acontecimentos externos. O medo de ficar sozinha me fez abandonar a pessoa que eu realmente era. Eu queria agradar, ser amada e fazer parte de alguma coisa, de algum grupo, e durante anos fui um camaleão social, me transformando em tudo para todos. Isso influenciou as minhas escolhas, os meus hábitos, os meus hobbies, a maneira como me vestia, como me comportava e como falava. Tudo para impressionar as pessoas ao meu redor e ser aceita por eles.

Eu segui o fluxo porque acreditei que era assim que tinha que ser, que não tinha outra opção. Me senti deprimida por anos porque a minha mente entrou em conflito com o meu coração – que sempre soube que a verdade era outra… Que era possível seguir o meu próprio caminho agradando a pessoa que mais importava para mim: eu mesma.

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